CONTRADIÇÕES DENTRO DO ALCORÃO
Tradução de Wesley Nazeazeno
“E não ponderam eles o Alcorão? E, fosse vindo de outro que não Allá, encontrariam nele muitas discrepâncias.” (Sura 4:82)
Este verso é ampliado mais adiante nestas citações de versos:
“Não há alteração das palavras de Allá” (Sura 10:64)
“E não há quem troque as palavras de Allá” (Sura 6:34)
Nós Cristãos cremos nisto também. Deixai-nos assumir por um instante que não há discrepância alguma entre a mensagem da Bíblia e a do Alcorão, o qual, como temos visto, não é bem o caso, e consideremos o Alcorão por si próprio.
O Problema da ab-rogação.
“E, quando trocamos um versículo por outro versículo − e Allá é bem sabedor do que faz descer − eles dizem: ‘Tu és apenas um forjador.’. Não. Mas a maioria deles não sabe. Dize: O Espírito Santo fê-lo descer de teu Senhor, com a verdade.”
“Qualquer versículo que ab-roguemos ou façamos esquecer, faremos chegar um melhor ou igual a ele. Não sabes que Allá, sobre todas as cousas, é onipotente?... Quereis questionar vosso Mensageiro como, antes, foi questionado Moisés?” (Suras 16:101 e 2:106, 108)
Nós gostaríamos de descobrir como uma divina revelação pode ser melhorada. Deveríamos esperar que ela fosse perfeita e verdadeira desde o princípio. Yusuf Ali tenta explicar:
“... isto significa que a mensagem de Deus de era em era permanece sempre a mesma, mas que sua forma pode diferir de acordo com as necessidades e exigências do tempo. Alguns comentaristas aplicam isto também à Ayat (revelação) do Alcorão. Não há nada de depreciativo nisso se crermos em revelação progressiva. Na Sura 3:7 nos é narrado de modo muito claro sobre o Alcorão, que alguns de seus versos são básicos e fundamentais, e outros são alegóricos, e que é perigoso lidar com os versos alegóricos e segui-los (literalmente).” (comm 107).
Isto é completamente aceitável. Deus revelou Sua Palavra progressivamente, a revelação sendo nivelada à compreensão e cultura do povo ao qual ela foi inicialmente dada. Todos concordarão que uma alegoria não deve ser tomada literalmente. Mas e quanto à lei de ‘mansukh’ (= verso ab-rogado, anulado; por favor note que a Sura 2:106 não fala de intelecto, cultura ou de revelação progressiva com referindo-se às escrituras dadas previamente a Mohamed, mas sim aos versos alcorânicos somente!) e ‘nasikh’ (= os versos que tomam o lugar dos versos mansukh)?
Devemos reconhecer um princípio importante: se queremos saber o que certa passagem realmente quer dizer, devemos fazer uma exegese (análise do texto) apropriada. Temos que estabelecer o que exatamente o texto em questão tentava dizer aos leitores originais. Como eles entenderam certa coisa? Somente tendo feito isto é que nós podemos interpretar um texto para nossa situação atual sem acabar cometendo alguma distorção. Há vários modos possíveis de se estabelecer o sentido original, mas um deles pode ser olhando para os mais antigos comentaristas e ver como eles entenderam e interpretaram o texto.
‘Tafsir-i-Azizi’ explica três tipos de ab-rogações (= anulações):
i) quando um verso é removido do Alcorão e outro é dado em seu lugar;
ii) onde a ordem (comando) é ab-rogada e o sentido do verso permanece; !
iii) onde tanto o verso quando sua ordem são removidos do texto
Jalalu’d-Din diz que o número de versos anulados tem sido variadamente estimado de 5 a 500 (“Dicionário do Islã”, página 520).
Em sua ‘Itqan’ ele forneceu uma lista de 20 versos, os quais são conhecidos por todos comentaristas por terem sido ab-rogados (“Dicionário do Islã”, página 520).
Alguns são mencionados aqui:
A Quiblah (direção da oração) foi mudada de Jerusalém para Meca (Sura 2:142-144);
A divisão da herança deixada pelos pais ou por outro parentes de acordo com a Sura 4:7 deveria ser igual (cada parte deveria ser bem determinada). Este verso foi anulado e substituído pelo verso 11, onde foi ordenado que os homens receberão o dobro da parte das mulheres;
A oração noturna realizada através da recitação do Alcorão deve ser mais ou menos a metade do tempo da noite (Sura 73:2). Isto foi mudado para tanto quanto seja confortável (no sentido de capacidade) para você (verso 20);
O tratamento de adúlteros é para o aprisionamento pela vida toda (Sura 4:15), o qual foi trocado por 100 açoites (Sura 24:2);
A retaliação em casos de crime, particularmente do assassinato, era de ser restringido o indivíduo por pessoas de nível equivalente (escravos por escravos, livres por livres, etc.) (Sura 2:178) Mas isto está em desacordo com a Sura 5:48 e 17:33 onde a retaliação é permitida somente contra o assassino.
A Jihad, ou Guerra Santa, foi proibida nos meses sagrados (Sura 9:5) mas é permitida e até encorajada no verso 36, substituindo o verso precedente.
A Sura 2:106 ocorre imediatamente antes de uma série de mudanças radicais, ou mais adequadamente, de modificações, introduzidas por Mohamed nas esferas ritualísticas e legais. Deste modo o verso precede na Qibla (vss 115, 177, 124-151); nos ritos de peregrinação (vs 158); nas leis sobre alimentação (vss. 168-174); na lei relativa ao talião (vss 178-179); sobre heranças (vss 180-182); sobre jejum (vss 182-187); e novamente sobre a peregrinação (vss 191-203).
Similarmente, a Sura 16:101 é seguida por alusões à modificação nas leis alimentares (vs 114-119), e sobre leis sabáticas (vs 124). (“The Collection of the Quran”, por John Burton).
Trabalhando dedicadamente nisto, notamos que o jejum é compulsório “e quem de vós estiver enfermo ou em viagem, que jejue o mesmo número de outros dias. E impende aos que podem fazê-lo, mas com muita dificuldade, um resgate: alimentar um necessitado.” (Sura 2:184).
“Aqui dificilmente alguém escapa da conclusão que o primeiro verso (i.e. 184) permite a um homem rico comprar a si mesmo o direito de não jejuar.” (‘Islam’ por A. Guillaume). O verso seguinte vem para substituir o primeiro. Ele não permite qualquer compensação de qualquer espécie de jejum.
No verso 180 da mesma Sura “é-vos prescrito, quando a morte se apresentar a um de vós, − se deixar bens, − fazer testamento aos pais e aos parentes, convenientemente.” Este veio para substituir a Sura 4:11, que de acordo com ela uma porção dobrada da herança vai para os homens comparados às mulheres.
Os mais discutidos ‘versos da espada’: “... matai os idólatras, onde quer que os encontreis, e apanhai-os e sediai-os, e ficai à sua espreita, onde quer que estejam.” (Sura 9:5) e “... quando deparardes, em combate, os que renegam a Fé, golpeai-lhes os pescoços...” (Sura 47:4) diz-se sobre eles que “comenta-se que foram cancelados não menos que 124 versos que ordenaram tolerância e paciência.” (A. Guillaume).
É surpreendente para nós encontrar versos de mansukh e nasikh tão próximos um do outro. Julgamos que estes sejam casos de interpolação.
Como foi dito anteriormente, cremos em revelação progressiva. A Velha Aliança, tal como fora dada a Moisés, foi substituída pela Nova Aliança da graça, a qual Jesus apresentou. Mas estes desenvolvimentos ocorreram após um tempo considerável de 1500 anos com muitos avisos proféticos e predições neste intervalo, então nenhuma ação arbitrária pode ser a injustamente atribuída a Deus. À luz disso consideramos inaceitável que num espaço de 20 anos uma necessidade de mudança ou de correção pudesse ser necessária. Isto certamente sugere que Deus não é conhecedor de tudo e que também o registrador teve que fazer uma correção.
Estes são outros versos que se acrescentam à confusão:
“Se quiséssemos ir-Nos com o que te revelamos” (Sura 17:86). “Nós far-te-emos ler, e de nada te esquecerás, exceto do que Allá quiser.” (Sura 87:6-7).
Por que razão algo de uma revelação eterna deveria ser esquecido? Para ‘substituir por algo melhor’? Admitimos que um homem inspirado pode errar algumas vezes, mas um livro (nazil) inspirado não pode!
Zarkasi explica o conceito acima mais profundamente. Ele estabelece (vol I, p. 235):
“O ‘nasikh’ (sic) do parafraseado e recitação ocorreu do modo de Deus fazendo-os esquecê-los. Ele substitui os versos da memória deles enquanto ordenava-os a omitir sua recitação pública e sua lembrança do mushaf. Com a passagem do tempo, estes versos deveriam desaparecer tal como os restos dos Livros revelados por Deus os quais Ele menciona no Alcorão, mas nada disso é conhecido hoje. Isto pode ter ocorrido tanto durante a vida do Profeta ou quando da morte dele, e o material esquecido não foi mais uma parte recitada do Alcorão; ou isto pode ter ocorrido mesmo após a morte do Profeta. Eles permaneceriam existentes em escritos, mas Deus os faria esquecer. Ele removeria-os de suas memórias. Mas, naturalmente, o naskh de qualquer parte da revelação após a morte do Profeta não é possível.” (‘The Collection of the Quran’ por John Burton, p. 97).
Sugerimos que Allá poderia ter-nos poupado de muita confusão, dúvida e explicações, se Ele tivesse apenas dado o melhor texto desde o princípio.
“Haviam séries de Hadiths claramente destinadas a dar a impressão de que Mohamed se esqueceu de parte das revelações. Os relatos foram específicos e detalhados o bastante para identificar o atual fraseado dos versos em questão. Coleções são relatadas nas duas Sahihs (i.e. al-Bukhari e Muslim) declarando que: Lá foi revelado a respeito desses mortos em Bi’r Ma’una, um verso do Alcorão que nós recitamos até que fosse substituído: “Informe nossa tribo que está a nosso favor que nós temos encontrado nosso Senhor. Ele tem se satisfeito conosco e tem satisfeito nossos desejos.” (al-Itqan, por Jalal al Din).
Por essa razão, ‘Abdullah b. al Zubair questionou a Otman o que ele teria para incluir a Surata 2:240 na ‘mushaf’ (documento ou cânon), quando ele soube que havia sido substituído pela Surata 2:234. ‘Porque’, respondeu Otman, ‘eu sei que ele é uma parte do texto do Alcorão.’ (ibid). (“The Collection of the Quran”, por John Burton).
Um problema futuro se levanta do fato de que de modo algum há qualquer segurança em nos versos mansukh e nasikh, já que o Alcorão não foi transcrito de modo cronológico, mas sim de acordo com o tamanho de cada Surata. De qualquer modo, as Suratas também não foram necessariamente dadas em um único pedaço. Isso aconteceu com uma certa porção das Suratas, e o texto que em seguida seria dado poderia ser direcionado por Mohamed para ser incluído em outra Surata, e depois uma outra adição poderia ser posta novamente lá na primeira, etc. As hadith não dão qualquer informação conclusiva sobre a ordem cronológica, ou sendo mais claro, não há meios para se determinar qual dos textos em desacordo são mansukh e qual é nasikh.
Seja qual for o caso, nós que somos Cristãos vemos todo esse caso apenas como um truque teológico para “explicar” contradições [bem claras]. A citação:
“Não há alteração das palavras de Allá” e “E não há quem troque as palavras de Allá. E, com efeito, chegaram-te alguns informes dos outros mensageiros” (Suratas 10:64 e 6:34)
se contradiz com todos os Muçulmanos que argumentam que a Bíblia, a qual é tida como um livro revelado, foi alterada ou corrompida.
Para sublinharmos nosso ponto principal, deixem-nos observar duas passagens do Alcorão que não têm sido harmonizadas nos moldes da lei da ab-rogação.
Na Surata 41:9-12 lemos que o mundo foi criado em oito dias, na Surata 7:54 se diz que foi em seis dias. Isto é, podemos supor, como que uma escolha para que o que crê possa escolher qual dos valores aceitará.
QUESTÃO: Devemos assumir uma certa inconsistência da parte de Deus? Conhecedor de tudo o que há, tal contradição pode de fato ter vindo de Deus?
Problemas relativos à consistência da Revelação.
O Alcorão é inconsistente no que se refere aos compromissos da parte de Allá nos quais o crente pode avaliar algo ou nos quais em que ele pode construir sua vida. Compromissos dados se contradizem noutras partes:
“Allá inscreveu a Si mesmo a (regrada da) misericórdia”
Ou
“Allá prescreveu a si mesmo [como lei para] a misericórdia” (Surata 6:12)
está em contradição na mesma Surata: (versos 35-39)
“Se Allá quisesse, juntá-los-ia na orientação... Allá descaminha a quem quer e faz estar na senda reta a quem quer.”
Como podemos ver, a esperança dos Muçulmanos está nessa palavra desesperançosa:
“SE for do querer de Allá”.
Isso é algo impressionante, porque até mesmo no Antigo Testamento o crente estava advertido sobre a Lei da causa e Efeito. Uma vez que um crente quebrasse alguma das leis de Deus, ele estaria cortado de junto a Ele, e estaria agora perdido e perecendo. Mas se ele se reconciliar e conseqüentemente se arrepender de acordo com o as ordenanças prescritas por Deus (o sacrifício), seu pecado será perdoado. Deus se comprometeu a isso. Isto também é trabalho depois no Novo Testamento:
“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” (I João 1:9)
Vemos uma clara regressão deste padrão no Alcorão.
Também vemos com estranheza quando lemos:
“Encontrarás que os Judeus e os idólatras são os mais violentos inimigos dos crentes. Encontrarás que os mais próximos aos crentes, em afeição, são os que dizem: ‘Somos Cristãos’.” (Surata 5:85)
Este verso é sustentado por uma nota explanatória na “Mishkat” (IV, página 103, nota 2380) onde nos é dito que “perto de dois terços do paraíso” serão preenchidos com “os seguidores do Santo Profeta, e os seguidos dos outros profetas representarão um terço”. Estas palavras estão em estranho contraste com as palavras da Surata 5:51:
“Não tomeis por amigos os judeus e os cristãos”.
E o que dizer sobre estarem então juntos no Paraíso? A razão é mesmo muito estranha:
“Eles (Judeus e Cristãos) são amigos uns dos outros. E quem de vós se alia (para amizade) a eles será deles. Por certo, Allá não guia o povo injusto.”
E é muito difícil de dizer que Judeus e Cristãos são protetores um do outro, exceto no que tange à crença no Antigo Testamento.
De Mohamed se diz que ele foi o primeiro a se curvar para Allá (no Islã) (Suratas 6:14; 163; 39:12). Mas se diz o mesmo também de Abraão, seus filhos e Jacó que também eram Muçulmanos (Surata 2:132), e todos os profetas antigos que trouxeram ‘livros’ (i.e. Moisés, Davi e Jesus) (Suratas 28:52-53). E ainda, se diz que os discípulos de Jesus eram Muçulmanos (Surata 3:52).
Nós vemos tudo isso como contradições. Algumas podem não ser de natureza mais séria, se não fosse pela declaração de que o Alcorão é ‘nazil’ ou ‘descido’ do Céu para Mohamed sem qualquer toque das mãos humanas — exceto pelo ato de transcrevê-lo.
QUESTÃO: Há alguma declaração sem qualquer contradição no Alcorão na qual um Muçulmano pode confiar para ter vida eterna no céu?
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This article is a translation of "Contradictions within the Quran" - original
Este artigo é uma tradução de "Contradictions within the Quran" - original
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Palavras-chave
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