Removendo os mitos Muçulmanos sobre o Evangelho
Por Doug Smith
Tradução de Wesley Nazeazeno
A palavra evangelho é derivada do grego euangelion. No inglês, deriva do inglês antigo gōdspel, significando boa palavra, boa história, boas novas [tal como no sentido grego, euangelion]. Isso foi tencionado como uma tradução da antiga palavra do Latim evangelium ou da forma grega, euangelion, significando boas notícias [1]. As boas novas, como Yusuf Ali, um moderno tradutor e comentarista do Alcorão, escreve é a proclamação da “bondade de Deus para o íntegro e perdão para aquele que se arrepende (boas novas).[2]” Os Cristãos Abissínios provavelmente levaram a palavra para o Árabe, traduzindo como Injil, e ela estaria em amplo uso antes dos tempos de Mohamed.[3]
Tanto os Cristãos quanto os Muçulmanos ensinam que o Evangelho foi ensinado por Jesus (chamado de ‘Isa no Alcorão), e ambos crêem que ele foi registrado de forma escrita. Quando os Cristãos referem-se ao “Evangelho”, significa a mensagem de boas novas ensinadas por Jesus. Eles crêem que essa mensagem foi registrada por quatro relatos de testemunhas oculares, os quais são chamados de quatro Evangelhos. A maioria dos Muçulmanos, no entanto, têm a visão expressada por Ali:
O Injil (grego, Evangel = Evangelho) falado no Alcorão não é o Novo Testamento [Escrituras Cristãs]. Ele não é os quatro Evangelhos, atualmente aceitos como canônicos. Ele é o único Evangelho o qual, conforme o Islã ensina, foi revelado por Jesus, e que ele ensinou. Fragmentos dele sobreviveram nos Evangelhos canônicos que foram recebidos e em alguns outros, nos quais sobrevivem traços... Por esta razão, os Muçulmanos estão certos em respeitar a atual Bíblia ... posto que rejeitam as doutrinas peculiares ensinadas pelos Cristianismo e Judaísmo ortodoxo.[4]
A visão de Ali reflete o pensamento Islâmico moderno, mas ele não foi professado por Mohamed e nem pelos comentaristas antigos como Tabari, e nem por alguns teólogos mais recentes como o Egípcio Muhammad ‘Abduh’[5]. Além do mais, o Islã infere que já que as palavras de Jesus vieram de Deus, elas estariam necessariamente de acordo com o Alcorão; consequentemente, somente o Alcorão é necessário já que ele é um conjunto superior das divinas revelações de Deus.[6] Então, está Ali correto em dizer que não temos mais o Evangelho dado a Jesus? Ao contrário, ele diz que o Evangelho é o que Jesus ensinou; sendo assim, qualquer registro dos ensinos de Jesus, no qual se inclui qualquer relato de testemunhas oculares como os quatro Evangelhos Cristãos, é parte do Evangelho de Jesus.
Não obstante, os Muçulmanos discutem que os Evangelhos Cristãos contém apenas fragmentos da verdade, muitos dos quais foram corrompidos ao longo dos anos. Desta forma, este artigo tentará mostrar que os quatro Evangelhos Cristãos existentes hoje são, de fato, o ‘Evangelho’ original e os verdadeiros ensinos de Jesus, demonstrando que eles existiram incorruptos durante o tempo de Mohamed e foram preservados em sua forma original desde o começo.
A descrição do Alcorão do Evangelho
O Alcorão menciona o Evangelho vinte vezes pelo nome, mas outras muitas vezes como ‘o Livro’ ou ‘as Escrituras’. Interessantemente, não há nenhum verso no Alcorão que diga que o Evangelho é diferente dos livros canônicos dos Cristãos.[7] Ao contrário, ensina que Mohamed referiu-se ao Evangelho como estando nos dias presentes (“em suas mãos”) (34:31, 35:31, 10:37, 12:111, 3:3, 5:51), e como sendo palavras de Deus (5:68), que não podem ser alteradas (6:115, 10:64, 18:27). A Tabela 1 sumariza diversos versos do Alcorão sobre o Evangelho.
Tabela 1. A descrição Alcorânica do Evangelho | ||||
Sura | Descrição |
| Sura | Descrição |
3:3, 5:46 | Veio de Jesus | 9:11 | As promessas de Deus estão nele | |
5:68 | Revelação de Deus | 5:47 | Somos julgados por ele | |
3:3, 5:46 | Orientação e luz | 5:66, 68 | Os Cristãos devem observá-lo | |
10:37 | O Alcorão o explica | 3:84, 4:136 | Os Muçulmanos deveriam crer nele | |
34:31 | Os descrentes (i.e. os de Mecca) se recusam a crer nele | 10:94 | Recorrer a ele quando estiver em dúvida | |
2:91 | O Alcorão o confirma | 2:62 | Os Cristãos não devem temer o dia do julgamento | |
40:70 | Julgados por rejeitá-lo | 48:29 | Compara a adoração Muçulmana à parábola de Jesus nos Evangelhos Cristãos (Marcos 4:27-28) | |
4:162 | Aqueles firmados no conhecimento crêem nele |
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A frase “em suas mãos”, mencionada acima, transliterado do Árabe como bayna yadaihi, é frequentemente erroneamente traduzido para as versões contemporâneas em Inglês como “o que foi revelado” ou “veio antes” (o mesmo tem ocorrido com as traduções em português). Entretanto, como William Campbell apresenta em seu livro ‘O Alcorão e a Bíblia à luz da história e ciência’, esta frase “tem o sentido literal de ‘entre ou em suas mãos’, mas comumente é uma expressão para ‘em sua presença’, ou ‘em seu poder’, ou ‘em sua posse’ ou ‘à sua disposição’.”[8]
Semelhantemente, Muhammad Asad, outro grande tradutor contemporâneo e comentarista do Alcorão, escreve:
A maioria dos comentadores são da opinião de que ma bayna yadahi – lit. “isto que está entre suas mãos” – denota aqui “as revelações que vieram antes dela”, i.e., antes do Alcorão. Esta interpretação não é, no entanto, totalmente convincente. Embora que não há nenhuma dúvida que neste contexto o pronome ma se refere às revelações antigas, e, particularmente, à Bíblia (como está evidente no uso paralelo da expressão acima em outras passagens do Alcorão), a expressão idiomática ma bayna yadahi não, por si só, significa “o que veio antes de” – i.e., em tempo – mas, ao contrário (como apontei na Sura {2}, nota [247]), “o que encontra-se aberto antes dele”. Entretanto, já que o pronome ‘isso’ (dele) possivelmente não pode se referir ao ‘conhecimento’ (como ocorre em 2:255), mas mais obviamente refere-se a uma realidade objetiva com a qual o Alcorão é “confrontado”: isto é, algo que era coexistente no tempo da revelação do Alcorão.[9]
Em adição a esses seis versos (apesar de muitos versos similares concernentes à Tora Judaica), a Sura 7:156-157 fala muito claramente na tradução para o inglês altamente respeitada de M. M. Pickthall, Glorious Qur’na, de “a Torá e o Evangelho (os quais estão) com eles”[10] O que isso mostra é que houve uma cópia do Evangelho em existência durante o tempo de vida de Mohamed. Por que o Alcorão diria para julgar através dele, observá-lo e chamá-lo de revelação de Deus se as cópias em existência durante os dias de Mohamed estavam corrompidas? Isso não faria de Mohamed um falso profeta?
Além disso o Alcorão diz que Cristãos autênticos viveram durante os tempos de Mohamed, fazendo nota de que os seguidores de Jesus foram inspirados para segui-lo (5:110-111), foram escolhidos para serem serventes de Deus (3:52-43), prevaleceram contra seus inimigos (61:14) e que alguns verdadeiros crentes deram-se ao monasticismo (57:26-27). De semelhante modo, Yusuf Ali atribui a Sura 18:10,25 aos Cristãos Efésios de cerca de 450 d.C., e ambos os tradutores do Alcorão Ali e Hamidullah atribuem a Sura 85:4-9, a qual fala sobre aqueles que creram em Deus, a Cristãos do século VI..[11] Como verdadeiros Cristãos poderiam ter existido sem uma cópia verdadeira do Evangelho?
A descrição da Hadice sobre o Evangelho
A Hadice[12] menciona o Evangelho em diversos lugares, apesar de falar mais a respeito da Torá dos Judeus. No entanto, três passagens dignas de nota são encontradas na Hadice de Tirmidhi e al-Bukhari:
Então ele disse, “Vocês não têm entre voces ... Salman que era um crente dos dois Livros? Significando o Injil e o Alcorão. Tirmidhi traduziu este.[13]
Ele [Mohamed] respondeu: “Estou surpreso com você, Ziyad. Eu pensei que você fosse o homem mais instruído de Medina. Esses Judeus e Cristãos não lêem a Torá e o Injil sem saber coisa alguma sobre seu conteúdo?”[14]
Khadija então levou-o [Mohamed] a Waraqa bin Naufil, o filho do primo por parte de pai de Khadija. Waraqa havia se convertido ao Cristianismo no Período Pré-Islâmico e era acostumado a escrever em Árabe e a escrever o Evangelho em Árabe tanto quanto Allá desejou que escrevesse. (Sahih al-Bukhari, vol. 6, nº 478)[15]
Tirmidhi menciona Salman, um crente em tanto o Alcorão quanto no Evangelho. Entretanto, uma questão se levanta, como ele poderia ser um crente em algo que não existia ou porque ele creria em algo se estivesse corrompido? Em sua referência aos Cristãos, o próprio Mohamed admitiu que o Evangelho existia. Semelhantemente, como Waraqa poderia copiar o Evangelho se ele não mais existisse? De fato, porque Deus o daria força para copiar uma versão corrompida de sua revelação?
Claramente, baseado nos relatos do Alcorão e da Hadice, o Evangelho deve ter existido de forma não-corrompida durante os tempos de Mohamed. Não obstante, o Alcorão e a Hadice também mencionam tahrif, i.e., a falsificação das escrituras pelo Povo do Livro (i.e., Judeus e Cristãos). A seguinte seção dedica-se a esta e outras objeções Muçulmanas concernentes ao Evangelho.
Tahrif
A palavra tahrif (“corrupção”) é usada pelos Muçulmanos quando se referem às Escrituras. Há dois tipos de corrupção: (1) alteração do sentido (al-tahrif al-ma ‘nawi), e (2) alteração das palavras atuais (al-tahrif al-lafzi). O Alcorão menciona que alguns Judeus distorceram a Bíblia com seus idiomas (3:78). Alguns ou todos, exceto poucos “mudaram as palavras de seus (devidos) lugares” (Ali) ou “de seu contexto” (Pickthall) (5:13-14, 4:46, 5:41). Semelhantemente, parte deles perverteu as palavras de Deus (2:75). Note, nenhum desses versos diz que as palavras de Deus foram fisicamente modificadas (somente que os Judeus as distorceram). Nenhum deles falam sobre os Cristãos e o Evangelho, e nem todos os Judeus foram culpados; em outras palavras, alguns permaneceram verdadeiros e confiáveis.[16]
Somente poucas hadices mencionam a corrupção das Escrituras. Por exemplo, al-Bukhari escreve:
‘Abdullah bin ‘Abbas disse, “Oh, grupo dos Muçulmanos! Como vocês podem indagar o povo das Escrituras sobre alguma coisa enquanto seu Livro, o qual Allah tem revelado a seu Profeta, contém as mais recentes novas de Allah, e é puro e não distorcido? Allah tem dito a vocês que o povo das Escrituras mudou alguns dos livros de Allah, isto para ter algum pequeno ganho. O conhecimento que tem vindo a vocês não os faz parar de questioná-los? Não, por Allah, nunca vimos um homem deles os perguntando sobre isso (o Livro do Alcorão) que tem sido revelado a vocês. (Sahih al-Bukhari, vol. 9, nº 614)[17]
Esta Hadice não diz que todas as Escrituras (somente “alguns dos livros de Allah”) ou nem mesmo quais Escrituras foram distorcidas. De fato, entender que esta Hadice está dizendo que todas as cópias das Escrituras foram distorcidas seria uma contradição com os versos do Alcorão anteriormente citados. Se ela se refere a todas as cópias das Escrituras, então porque Mohamed iria dizer para questionar aqueles em possa delas (21:7, 10:94)? Semelhantemente, em Sahih Al-Bukhari, vol 9, nº 633, porque ele se refere à autoridade das Escrituras Judaicas (Torá) tendo a citado e usado?
Ibn ‘Abbas não quis dizer que as palavras escritas de Deus foram alteradas porque ele creu que corromper as palavras significaria apenas mudar seu sentido. Ibn Kathir cita-o em seu comentário:
Al-Bukhari relatou que Ibn ‘Abbas disse que o Ayah quer dizer que eles adicionam ou alteram, apesar de que nada entre as criações de Deus pode remover as Palavras de Allah de seus livros, eles alteram e distorcem seus aparentes significados. Wahb bin Munabbih disse, “A Tawrah (Torá) e o Injil permanecem tal como Allah os revelou, e nenhuma letra neles foi removida. Entretanto, as pessoas desencaminham os outros adicionando e falsas interpretações, confiando-se em livros que eles próprios escreveram. Então, ‘eles dizem: Isto é de Allah”, mas não é de Allah;’ assim é com os livros de Allah, eles continuam preservados e não podem ser alterados.” Ibn Hatim registrou esta declaração.[18]
Ibn Kathir raciocina qie Ibn ‘Abbas e Wahb bin Munabbih não estavam falando de uma Torá e Evangelho que não foram corrompidos e que não mais existem, mas o texto claramente diz que somente o sentido foi corrompido. Ibn ‘Abbas estava se referindo aos outros livros Cristãos que abrangem o Novo Testamento, que são adições aos Evangelhos, já que ele diz que eles adicionam livros e os chamam de vindo de Deus. Razi, um comentarista Muçulmano antigo muito bem-conhecido, disse que “distorcido” possivelmente poderia significar falsificação do texto, mas Deus não permitiria que sua palavra fosse alterada, então isso não é muito provável. Razi argumenta que, teologicamente, as palavras de Deus devem refletir sua natureza. Deus é confiável; as Escrituras são as palavras de Deus; sendo assim, as Escrituras devem ser confiáveis. Além do mais, o Alcorão diz que a palavra de Deus não pode ser alterada (6:34, 10:64, 18:27) e que Deus a guardaria da corrupção (15:9). Se o Evangelho foi corrompido, então Deus falhou em manter sua promessa. Por que Ele a daria se soubesse que elas seriam corrompidas? [19]
Outro discípulo antigo do Islã, Ibn Ishaq (A.H. 85-151), em seu relato histórico da vida de Mohamed usa uma passagem do Evangelho Cristão de João para se referir a Mohamed:
Entre as coisas que vieram até mim sobre o que Jesus, Filho de Maria, disse no Evangelho que ele recebeu de Deus para os seguidores do Evangelho, um termo aplicável que descreva o Apóstolo de Deus, é o a seguir. Ele foi extraído do que João, o Apóstolo, trouxe-lhes quando escreveu o Evangelho de Jesus, Filho de Maria .... [20]
Ibn Ishaq está afirmando não apenas a existência do Evangelho após a morte de Mohamed, mas também está afirmando que o Evangelho Cristão de João é parte da mensagem do Evangelho de Jesus. Outros, tal como Tabari e Ibn Khaldun, creio que a maioria, Cristãos podem interpretar equivocadamente as Escrituras, e o mesmo ocorre com os Muçulmanos e o Alcorão. Até mesmo Sayyid Ahmad Khan, o primeiro Muçulmano comentarista da Bíblia, disse que tahrif significa tanto um erro de interpretação das Escrituras referentes a Mohamed quanto o não seguir as leis explícitas do Pentateuco Judeu.[21]
Não obstante, os Muçulmanos são cegamente ensinados a crer que o Evangelho foi corrompido, apesar das implicações teológicas e da carência de evidências para se fundamentar. Muitos, como H. M. Baagil em seu livro, Christian Muslim Dialogue, acusam o Evangelho de ser “adulterado” com adições, subtrações e alterações [22], mesmo que ele não forneça nenhuma evidência para tal. Joommal, um apologeta Muçulmano, contende que muitas revisões dos diferentes códices (coleções) dos manuscritos mostram que a palavra de Deus se tornou na palavra do homem. Ele declara, “A Bíblia, ... foi uma vez a Palavra de Deus. Como os séculos passaram, as mãos dos homens trabalharam para destruir a pureza e autenticidade da divina Palavra.”[23]