Respondendo ao islã

Islã como ‘Fim’ do Cristianismo:

Avaliando os Argumentos para a Ab-rogação
 

Auto: Kevin James Bywater

Tradução: Wesley Nazeazeno

 

A percepção Islâmica do Cristianismo

Em decorrência das chocantes tragédias de 11 de Setembro de 2001, o mundo dirigiu suas atenções não apenas para o Oriente Médio, mas especialmente para a religião do Islã. Infelizmente muitos estadunidenses buscam o Islã tão somente para serem de uma religião de terroristas. Isto é ser simplista.  E enquanto o Islã tem sido historicamente caracterizado por guerras e por sua própria versão de colonialismo, é compreensível porque tantas pessoas na América Central, América do Sul e em outras partes têm compreendido o Cristianismo em relações similares.

Desde a retirada do Império Otomano e do avanço do colonialismo pelos Europeus, os Muçulmanos têm soado uma idéia bastante similar do Cristianismo. Indiferentemente dessas idéias ou conceitos ruins, precisamos obter um melhor entendimento de exatamente como os Muçulmanos vêem o Cristianismo (ou o Ocidente, como eles muitas vezes identificam). [1] Fazendo isto, creio que obteremos um entendimento muito maior da fé Islâmica propriamente dita. O ponto da teologia Islâmica que está em foco neste estudo é o da ab-rogação; não a dinâmica do Alcorão da ab-rogação legal, [2] ainda que isto possa ser tratado, mas a afirmação de que na religião do Islã, o Judaísmo e o Cristianismo encontraram seu fim.

Refração do Alcorão

Essencial para a perspectiva Islâmica é a lente primária através da qual os Muçulmanos enxergam toda a realidade, a saber, o Alcorão. [3] De fato, os estudos Muçulmanos sobre outras religiões têm se focado preferivelmente sobre a apresentação que o Alcorão faz das práticas dessas religiões, crenças e história, do que ir através de uma investigação dessas religiões. Isto tem conduzido a uma projeção da idéia de Mohamed sobre as práticas e crenças da fé Cristã ao invés de um entendimento claro das atuais realidades nela residentes. [4] Esta projeção está evidente, por exemplo, na descrição Muçulmana sobre doutrinas Cristãs tais como a encarnação de Cristo e a Trindade.

O Alcorão e a Trindade. Como é bem sabido, os Muçulmanos rejeitam a Trindade porque o Alcorão contém denúncias muito claras contra ela. [5]

Ó adeptos do Livro, não exagereis em vossa religião e não digais de Deus senão a verdade. O Messias, Jesus, filho de Maria, foi tão-somente um mensageiro de Deus e Seu Verbo, com o qual Ele agraciou Maria por intermédio do Seu Espírito. Crede, pois, em Deus e em Seus mensageiros e digais: Trindade! Abstende-vos disso, que será melhor para vós; sabei que Deus é Uno. Glorificado seja! Longe está a hipótese de ter tido um filho. A Ele pertence tudo quanto há nos céus e na terra, e Deus é mais do que suficiente Guardião. (Alcorão 4:171)

Porém está bem claro que Mohamed nunca teve um conhecimento claro da doutrina, porque o Alcorão confunde Maria com o Espírito Santo e projeta a Trindade como se fosse um politeísmo.

E recordar-te de quando Deus disse: Ó Jesus, filho de Maria! Foste tu quem disseste aos homens: Tomai a mim e a minha mãe por duas divindades, em vez de Deus? Respondeu: Glorificado sejas! É inconcebível que eu tenha dito o que por direito não me corresponde. Se tivesse dito, tê-lo-ias sabido, porque Tu conheces a natureza da minha mente, ao passo que ignoro o que encerra a Tua. Somente Tu és Conhecedor do incognoscível. (Alcorão 5:116)

São blasfemos aqueles que dizem: Deus é um da Trindade!, portanto não existe divindade alguma além do Deus Único. Se não desistirem de tudo quanto afirmam, um doloroso castigo açoitará os incrédulos entre eles. (Alcorão 5:73) 

Estes equívocos são extremamente difíceis de se trabalhar com os Muçulmanos. Alguns parecem pensar que se os Cristãos não concordam sobre como o Alcorão descreve as crenças cristãs, é porque eles podem tanto estar mentindo quanto ter mudado a doutrina da Trindade. O Alcorão não pode estar equivocado e nem suas perspectivas a respeito de algo.

A Correção Cristã.  Independentemente de tal distorção, ao longo da história do Cristianismo a doutrina do politeísmo tem sido rejeitada. A doutrina da Trindade é entendida como uma forte declaração da unidade essencial de Deus. Como bem diz o Credo Atanasiano, “Veneramos um só Deus na Trindade e a Trindade em Unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir as substâncias”.  Uma substância não dividida é uma unidade. E esta declaração é o coração da confissão Cristã. Todos cristãos ortodoxos afirmam a crença em um só Deus. Tal afirmação deriva do ensinamento bíblico e é afirmado tanto pelo Novo quanto pelo Antigo Testamento. Por exemplo:

A ti te foi mostrado para que soubesses que o SENHOR é Deus; nenhum outro há, senão ele.

Pelo que hoje saberás e refletirás no teu coração que só o SENHOR é Deus em cima no céu e embaixo na terra; nenhum outro há. (Deuteronômio 4:35, 39)

Vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR, e o meu servo, a quem escolhi; para que o saibas, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá. Eu, eu sou o SENHOR, e fora de mim não há Salvador. (Isaías 43:10-11; cf. 44:6-8) 

Se há de fato os tão falados deuses, seja no céu ou na terra (como de fato haveria muitos ‘deuses’ e muitos ‘senhores’), para nós só há um Deus, o Pai, do qual todas as coisas vieram e para o qual nós vivemos; e há somente um Senhor, Jesus Cristo, através do qual todas as coisas vieram e pelo qual nós vivemos. (I Coríntios 8:5-6; cf. Efésios 4:4-6).

Apesar do apelo destas e outras tantas passagens bíblicas, e mesmo em face dos numerosos protestos dos Cristãos, os Muçulmanos insistem que a teologia Trinitariana é politeísta. A projeção da mente de Mohamed recalcitra a mentalidade dos Muçulmanos. Como nunca antes, nós Brasileiros devemos compreender que na realidade os Muçulmanos entendem nossa religião através das lentes do Alcorão.

Transcendendo estes simples equívocos sobre a fé Cristã, os Muçulmanos asseguram a crença de que o Islã substituiu e ab-rogou o Cristianismo, do mesmo modo que (segundo o pensamento deles) o Cristianismo substituiu o Judaísmo. É para este aspecto dos ensinos islâmicos que nós voltamos nossa atenção no estudo que segue.

Parte 1: O Islã como o ‘Fim’ da Fé Cristã

La ilaha illa Allah, Muhammadu Rasool Allah.
Não há outro Deus além de Allá, Mohamed é o Mensageiro de Deus.

— A confissão de fé essencial dos Muçulmanos. 

Uma coisa é se dizer que uma religião está carregada de inverdades e partidarismos e desvios, e é outra coisa bem diferente é violentamente dizer que uma religião substituiu todas as outras, ab-rogando todas as revelações divinas precedentes e os deveres divinamente instituídos. Esta é exatamente a afirmação do Islã sobre o Cristianismo e o Judaísmo. Está e a declaração mais compreensiva que pode ser feita. De fato, é irracional dizer que todos os elementos de uma outra religião são falsos, destrutivos ou enganosos. Mas uma aura de plausibilidade pode atender a esta declaração de se substituir uma religião anterior.

O caso Islâmico da ab-rogação do Cristianismo tem muitos elementos, desde declarações do Islã ser a religião original até afirmações de que todos os verdadeiros profetas ensinaram o Islã, e ainda a acusação de que os textos bíblicos têm sido corrompidos e as doutrinas bíblicas distorcidas pelos Judeus e Cristãos. Olharemos para estes e outros fatores durante nossa análise do ensino do Alcorão referente aos Cristianismo.

A Primazia do Islã

Que o Islã é a religião original é entendido de duas formas, seja em termos de ser a religião original existindo desde o início da criação ou ainda no sentido de que ele está inerente em cada ser humano ao seu nascimento.

O Islã é a Religião Original. Quando Deus criou o primeiro homem, Adão, firmou uma aliança com ele, a aliança do Islã. A esta aliança todos os filhos de Adão portam testemunho. Por esta aliança todas as pessoas estão incumbidas de responsabilidade.

E de quando o teu Senhor extraiu das entranhas dos filhos de Adão os seus descendentes e os fez testemunharem contra si próprios, dizendo: Não é verdade que sou o vosso Senhor? Disseram: Sim! Testemunhamo-lo! Fizemos isto com o fim de que no Dia da Ressurreição não dissésseis: Não estávamos cientes. (Alcorão 7:172) 

Portanto, a escusa pela ignorância (rejeição) ao Islã está removida. Todos os homens são responsáveis por vivificar a aliança firmada com seu primeiro pai, Adão. No dia do julgamento não haverá qualquer desculpa.

Todos os Seres Humanos já nascem Muçulmanos. Adicionalmente à sustentação de que o Islã é a religião primordial, encontramos na tradição islâmica a crença de que cada um dos seres humanos já nasce Muçulmano, ainda que seja uma fé primitiva, inicial, e que possa ser mudada por más instruções alheias.

Narrado por Abu Husaira: O Enviado de Allá disse, “Cada criança nasce com uma fé Islâmica verdadeira (i.e. para adorar a nenhum outro a não ser apenas Allá) mas seus pais convertem-no ao Judaísmo, Cristianismo ou ao Zoroastrismo [7], como um animal atacando um filhote de animal perfeito. Você percebe isto mutilado?” Então Abu Huraira recitou os sagrados versos: “A natureza Islâmica pura de Allá (verdadeira fé do Islã) (i.e. adorar a ninguém mais além de Allá) com a qual Ele tem criado os seres humanos. Nenhuma mudança deixa-se haver na religião de Allá (i.e. introduzindo nada em adoração junto a Allá). Esta é a religião íntegra (Islã) mas a maioria dos homens não sabe.”[8]

O que se diz é que cada humano que nasce é um Muçulmano, então também o foram os antigos profetas, tais como Adão, Abraão, Moisés, Davi e Jesus. Mas todos estes profetas não apenas foram Muçulmanos, eles também ensinaram a forma pura do Islã como profetas, mesmo que seus ensinos não foram da mesma extensão dos revelados a Mohamed.

Deus envia Profetas e seus Livros

De acordo com o Alcorão, Deus graciosamente enviava seu mensageiros para cada nação para ensiná-los submissão a Deus e para alertá-los contra falsos ensinos e práticas religiosas.

Certamente te enviamos com a verdade e como alvissareiro e admoestador, e não houve povo algum que não tivesse tido um admoestador. (Alcorão 35:24)

Até mesmo as religiões que precedem o Islã são entendidas como Islâmicas, seus profetas como sendo profetas de Deus:  “Já, antes de ti, tínhamos enviado mensageiros às seitas primitivas.” (Alcorão 15:10). Então Deus, graciosamente, revelou sua vontade ao longo da história passada e através de todas culturas. Para ser bem específico, o Corão dá nome a um bom número desses profetas, muitos dos quais são familiares aos Cristãos.

Moisés e Jesus ensinaram o Islã. Moisés e Jesus são entendidos como tendo sido profetas que ensinaram o Islã — a fé primordial, a religião de Deus — e se crê que Mohamed vestiu esta mesma capa profética. Um verso do Alcorão que deixa clara a continuidade entre Moisés, Jesus e Mohamed diz:

E de quando Jesus, filho de Maria, disse: Ó israelitas, em verdade, sou o mensageiro de Deus, enviado a vós, corroborante de tudo quanto a Tora antecipou no tocante às predições, e alvissareiro de um Mensageiro que virá depois de mim, cujo nome será Ahmad! Entretanto, quando lhes foram apresentadas as evidências, disseram: Isto é pura magia! (Alcorão 61:6)

Neste verso vemos que Jesus não apenas confirmou o livro de Moisés, a Tora, como também se pôs na posição de passar o manto profético para um que viria após ele, chamado de Mohamed (discutiremos profecias alegadas a Mohamed abaixo).

Abraão ensinou o Islã.  Não apenas há uma continuidade declarada entre Moisés, Jesus e Mohamed, como também o Corão apela que Abraão não foi nem um Judeu ou um Cristão.[9]

Ibrahim (Abraão) não foi nem Judeus e nem Cristão, mas ele foi um verdadeiro Muçulmano Hanifa (Monoteísmo Islâmico — adorar a nenhum outro exceto Allá) e não um dos Al-Mushrikun [daqueles que adoram outros além de Allá]. (Alcorão 3:67)[10]

Os Muçulmanos podem honram os Profetas antecessores e seus Livros. Então, a missão de Mohamed esteve em harmonia com a dos antigos profetas, bem como sua extensão. A esta luz, isto significa que os ensinamentos do Corão criam um bom senso de que os Muçulmanos devem confirmam os profetas que os antecederam e seus livros. Deste modo encontramos no Alcorão ordens para que os Muçulmanos afirmem todos os mensageiros de Deus anteriores.

Dizei: Cremos em Deus, no que nos tem sido revelado, no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a Isaac, a Jacó e às tribos; no que foi concedido a Moisés e a Jesus e no que foi dado aos profetas por seu Senhor; não fazemos distinção alguma entre eles, e nos submetemos a Ele. (Alcorão 2:136)

Acrescentando, os Muçulmanos são ordenados a afirmar os livros vieram com estes profetas da antiguidade.

Ó fiéis, crede em Deus, em Seu Mensageiro, no Livro que Ele lhe revelou e no Livro que havia sido revelado anteriormente. Em verdade, quem renegar Deus, Seus anjos, Seus Livros, Seus mensageiros e o Dia do Juízo Final, desviar-se-á profundamente. (Alcorão 4:136)

O Profeta Mohamed

Exatamente por o Alcorão ensinar que o Islã é a religião inicial, que cada humano já nasce um Muçulmano, que Deus enviou profetas para todas as nações e codificou sua mensagem em livros e que os Muçulmanos aí estão para afirmar tanto estes profetas como seus livros, o ministério de Mohamed não é para ser meramente entendido no estado atual. Não, com a vinda de Mohamed deu-se a vinda de uma nova era, e a era da profecia universal, uma era de perfeição da verdadeira religião.

Falou-se de Mohamed nos livros anteriores. O Alcorão narra que Jesus falou de um profeta que o viria após ele, chamado de ‘Ahmad’, o qual é uma variação do nome Mohamed.

E de quando Jesus, filho de Maria, disse: Ó israelitas, em verdade, sou o mensageiro de Deus, enviado a vós, corroborante de tudo quanto a Tora antecipou no tocante às predições, e alvissareiro de um Mensageiro que virá depois de mim, cujo nome será Ahmad! Entretanto, quando lhes foram apresentadas as evidências, disseram: Isto é pura magia! (Alcorão 61:6)

Mohamed também afirmou que há profecias predizendo sua chegada e ministério na Torá e no Evangelho.

São aqueles que seguem o Mensageiro, o Profeta iletrado (i.e. Mohamed), o qual encontram mencionado em sua Torá (Dt 18:15) e no Evangelho (João 14:16). (Alcorão 7:157)

A nota de rodapé na edição do Alcorão de King Fahd, lemos o seguinte:

Existem no Taurat (Torá) e no Injil (Evangelho), mesmo após o texto haver sido distorcido, profecias claras indicando a vinda do Profeta Mohamed, e.g. Dt 18:18; 21:21; Sl 118:22-23; Is 42:1-13; Hb 3:3-4; Mt 21:42-43; Jn 14:12-17, 26-28; 16:7-14.

Os Muçulmanos acreditam que somente em Mohamed certas profecias da Bíblia são de fato realizadas. As principais passagens proféticas são, no Antigo Testamento, Deuteronômio 18:15 e, no Novo Testamento, João 14:16 — em ambos testamentos. Então, desta forma, já boas razões para os Cristãos e Judeus deixarem suas diferenças e divisões e se tornarem Muslim, isto é, Muçulmanos.

Mohamed foi o Profeta Universal. Ainda que a mensagem dos profetas foi verdadeira e vinda de Deus, a mensagem deles foi temporária e limitada. Nenhum deles foi profeta para todas as pessoas. Suas mensagens foram limitadas ao tempo, mesmo que estiveram em harmonia com o Alcorão. “A Mensagem de Mohamed”, comenta Afif Tabbarah, “foi enviada para toda raça humana, diferentemente da dos apóstolos antes dele que foram enviados, cada um para seu povo”[11].  Desta modo lemos no Alcorão,

Dize: Ó humanos, sou o Mensageiro de Deus, para todos vós; Seu é o reino dos céus e da terra. La ilaha illa Huwa (Ninguém além dEle pode ser adorado). Ele é Quem dá a vida e a morte! Crede, pois, em Deus e em Seu Mensageiro (Mohamed), o Profeta iletrado, que crê em Deus e nas Suas palavras [(o Corão), a Taurat (Torá) e o Injil (Evangelho); segui-o, para que vos encaminheis. (Alcorão 7:158)

E não te enviamos, senão como universal (Mensageiro), alvissareiro e admoestador para os humanos; porém, a maioria dos humanos o ignora. (Alcorão 34:28)

Mohamed foi o Profeta Final. Mohamed não apenas é visto exclusivamente como o único mensageiro universal de Deus, mas ele também é compreendido como sendo o mensageiro final, o selo de todos os profetas. A missão de Mohamed esteve em completa harmonia com os profetas anteriores, mas ele foi único no sentido de que a tradições proféticas atingiram seu clímax nele.  Deste modo o Alcorão declara que Mohamed é o selo final dos profetas, o mensageiro final ou porta-voz de Deus.

Mohamed não é o pai de nenhum de seus homens, mas ele é o Mensageiro de Allá e o último (fim) dos Profetas. E Allá é Verdadeiro Conhecedor de tudo. (Alcorão 33:40)

Afif Tabbarah comenta sobre este verso:

Este verso conclui o período profético, e decide que não haverá nenhum outro profeta após Mohamed, embora centenas de anos tenham passado na Divina criação do universo antes de Mohamed, com profetas sucedendo uns aos outros. Nos livros desses profetas, houve notícias de que outros profetas viriam após eles... Cerca de 15 séculos se passaram após a revelação do verso supracitado, um período extenso o suficiente para a aparição de muitos outros profetas após Mohamed, vindo um após o outro, ou vivendo contemporaneamente. Por que eles não apareceram? [12]

Uma hadith bem conhecida dá uma ilustração bem instrutiva sobre o ensino de que Mohamed é o profeta final de Deus.

Narrou Abu Haraira: O Apóstolo de Allá disse, “Minha similaridade em comparação com os outros profetas antes de mim é de um homem que construiu uma casa muito bonita e agradável, exceto por uma parte de um tijolo de esquina. As pessoas vão por ela maravilhando-se por sua beleza, mas dizem: ‘Este tijolo teria que ser posto aqui!’ Então eu sou este tijolo, e eu sou o último dos Profetas.” [13]

O Alcorão

O livro associado ao profeta universal e final, Mohamed, é o Corão. Não é apenas crido com sendo uma revelação de Deus — e também uma confirmação das revelações anteriores de Deus — mas o Corão é crido como sendo a revelação final de Deus, mantida e guardada pela divina vontade e, deste modo, incorruptível até o dia de hoje.

O Alcorão confirma os livros anteriores a ele. O Alcorão não é entendido como um livro para conflitar com os livros dos antigos profetas, antes, pelo contrário, veio para confirmar sua mensagem (uma afirmação está logo abaixo).

É impossível que este Alcorão tenha sido elaborado por alguém que não seja Deus. Outrossim, é a confirmação das (revelações) anteriores a ele [i.e. a Torá (Taurat) e o Evangelho (Injil)] e a elucidação do Livro (i.e. leis, decretos para a humanidade) indubitável do Senhor do Universo. (Alcorão 10:37) 

Porém, antes deste, já existia o Livro de Moisés, o qual era guia e misericórdia. E este (Alcorão) é um livro que o corrobora, em língua árabe, para admoestar os iníquos, e é alvíssaras para os benfeitores. (Alcorão 46:12) 

O Alcorão é o Livro Perfeito. Se os profetas antigos tiveram livros, então Mohamed também teve o seu. De fato, os Muçulmanos vêem o Alcorão como insuperável, o único livro perfeito na terra. Diz:

Dize-lhes: Mesmo que os humanos e os gênios se tivessem reunido para produzir coisa similar a este Alcorão, jamais teriam feito algo semelhante, ainda que se ajudassem mutuamente. (Alcorão 17:88)

O Alcorão é a plenitude da Revelação. De fato, o Alcorão não é apenas incomparável a todos livros, ele também é a plenitude da revelação de Deus.

Temos exposto neste Alcorão toda a sorte de exemplos para os humanos, porém, a maioria dos humanos o nega. (Alcorão 17:89)

O Alcorão é Incorruptível. Enquanto é muito comum os Muçulmanos dizerem que os textos bíblicos foram adulterados ao ponto de que a Bíblia não pode ser considerada de confiança, também é comum para eles dizer que o mesmo jamais poderia ocorrer ao Corão. Por que isto nunca ocorre com o Alcorão? Porque Deus tem jurado guardá-lo:

Nós revelamos a Mensagem e somos o Seu Preservador. (Alcorão 15:9)

Lemos na nota de rodapé desta passagem na edição do Alcorão de King Fahd:

Este verso é um desafio à humanidade e todos estão obrigados a crer nos milagres deste Alcorão. É uma fato claro que mais de 1400 anos se passaram e nenhuma só palavra deste Corão tem sido modificada, apesar de os descrentes tentarem ao máximo mudá-lo de qualquer forma, mas eles falharam miseravelmente em seus esforços. É como está mencionado no Verso sagrado: “Somos o Seu Preservador”. Por Deus! Eles tem o preservado. Pelo contrário, todos os outros Livros sagrados [a Taurat (Torá), o Injil (Evangelho)] têm sido corrompidos por adições ou subtrações ou alterações do texto original. [14]

Os Muçulmanos não apenas acreditam que o Corão será preservado de corrupção, ele está escrito em uma placa eterna:

Sim, este é um Alcorão Glorioso, inscrito em uma Tábua Preservada! (Alcorão 85:21-22)

Então, certamente que ainda que o Deus Todo-poderoso tenha dado revelações anteriores, somente o Alcorão tem sido preservado e será protegido de corrupção.

Sumário e Conclusão

Em nossa breve visão da perspectiva Islâmica sobre o Cristianismo, temos visto o seguinte. 1) O Islã é a religião original, é a religião primordial, a religião de Adão, Abraão, Moisés e Jesus. Adicionalmente, todos os humanos já nascem Muçulmanos. 2) Deus enviou profetas ao longo do tempo para todas as nações — profetas como Abraão, Moisés e Jesus. Ele não apenas falou através destes profetas, mas também deu-lhes livros (e.g. a Torá e o Evangelho). Mas a missão deles foi limitada, e seus livros foram incompletos e depois corrompidos. 3) Mohamed é o profeta final prenunciado pela Bíblia, e seu livro, o Alcorão, é perfeito, completo e incorruptível.

A única fé válida é a do Islã. Em razão da finalidade do ofício profético de Mohamed, combinado à completitude da revelação de Deus no Alcorão, os Muçulmanos ortodoxos rejeitam quaisquer novas declarações de revelações divinas ou sucessões religiosas fora do Islã. Deste modo, eles são críticos de grupos tais como os Bahai [15], os Ahmadiyyah [16] e a Nação do Islã [17]. Todavia, os Bahai, em particular, afirmam que em sua religião todas religiões encontram sua unificação.[18]

Não é censurável a reivindicação Muçulmana de que o Islã é a única fé viável, pelo menos não no sentido de reivindicar exclusividade. Num contexto filosófico que vem diminuindo a significância das diferenças religiosas, distinções e declarações da verdade, os Muçulmanos podem ser louvados por preservarem seus valores sobre a verdade e mentira com muito respeito as suas crenças religiosas e ao sistema de crenças em si. Mas ainda assim parecemos ver que houve um tempo em que o Islã foi mais inclusivo do que é agora. O Alcorão ensina, e os Muçulmanos em uníssono afirmam largamente, que os monoteístas não-Muçulmanos que afirmarem tal doutrina do monoteísmo e crerem no último dia do julgamento, podem ter certeza de receber recompensa e esperança naquele dia.

Os fiéis, os judeus, os cristãos, e os sabeus, enfim todos os que crêem em Deus, no Dia do Juízo Final, e praticam o bem, receberão a sua recompensa do seu Senhor e não serão presas do temor, nem se atribuirão. (Alcorão 2:62)

Os fiéis, os judeus, os sabeus e os cristãos, que crêem em Deus (na singularidade de Allá, em Seu Mensageiro Mohamed e em tudo que foi revelado a ele por Allá), no Dia do Juízo Final e praticam o bem, não serão presas do temor, nem se atribularão. (Alcorão 5:69)

Mas ainda que tenha havido tal tempo em que os religiosos Islâmicos tenham admitido de certa forma outras fé monoteístas, este tempo já chegou ao fim. Os tradicionais comentaristas Muçulmanos estão em acordo unânime de que os versos acima citados estão ab-rogados por outro.

E quem quer que almeje (impingir) outra religião, que não seja o Islam, (aquela) jamais será aceita e, no outro mundo, essa pessoa contar-se-á entre os desventurados. (Alcorão 3:85)

Deste modo nós temos um círculo completo. O Islã é a fé original, a fé de Adão e seus descendentes; o Islã é a fé com a qual todo ser humano neste mundo já nasce; o Islã é a fé de todos os profetas — não obstante, Mohamed é o profeta final; o Islã está revelado em totalidade ao longo das páginas do Corão, a perfeita, última e incorruptível escritura; e como tal, o Islã é a única fé válida em nossos dias, a religião na qual toda fé monoteísta alcança seu clímax final.

Parte 2: Respondendo aos Argumentos da Ab-rogação

Como nós interagimos com a percepção que o Islã tem do Cristianismo no qual o Cristianismo encontra seu fim no Islã, agora focaremos nossa atenção nas questões prioritárias como a continuidade, a fidedignidade e autoridade da Bíblia, as alegadas profecias referidas a Mohamed e o relacionamento entre o Cristianismo e a fé do Antigo Testamento.

A importância da Continuidade

Em via de regra, para uma religião afirmar ser um desenvolvimento orgânico de uma religião precedente deve haver um alto grau de continuidade. Em outras palavras, deve haver acordo substancial no que é essencial para a religião anterior. Para um certo grau, o Islã pode declarar tal continuidade sobre o Cristianismo e Judaísmo (entendido como a religião do Antigo Testamento).

Relativamente a Deus, os Muçulmanos crêem que ele existe, que ele é um (quantitativamente falando) Deus, que ele criou o universo, é soberano, poderoso ao máximo, ativo em sua criação — especialmente com a humanidade, e que ele conhece até os mais íntimos detalhes das vidas humanas e um dia fará toda a humanidade prestar contas por suas obras boas ou más. Cristãos e Muçulmanos também crêem que Deus falou à humanidade através de seus mensageiros (humanos e angelicais). Nós também concordamos que a revelação de Deus era escrita em livros sagrados.

Mas mesmo com tais acordos substanciais, de longe muitas descontinuidades existem que minam a plausibilidade da declaração Islâmica de ser uma extensão harmoniosa do Judaísmo e Cristianismo. Vamos iniciar com algumas descontinuidades doutrinárias para representar.

Descontinuidade: A Natureza Humana

A pretensão de que Mohamed e o Corão confirmam a mensagem dos profetas falha em concordar com os atuais ensinos encontrados na Bíblia, tanto no Novo quanto no Antigo Testamento. Eles ensinam que os humanos ingressam neste mundo com uma tendência hereditária para o pecado. Esta é a doutrina do ‘pecado original’.

O Antigo Testamento sobre a Natureza Humana: Depravação. Aqui está como o Antigo Testamento descreve a herança totalmente pecaminosa da humanidade.

Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração. (Gênesis 6:5)

E o SENHOR aspirou o suave cheiro e disse consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade; nem tornarei a ferir todo vivente, como fiz. (Gênesis 8:21)

Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe. (Gênesis 51:5)

O Novo Testamento sobre a Natureza Humana: Depravação. O Novo Testamento está em total acordo com o Antigo Testamento. Considere estas poucas passagens.

Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em conta quando não há lei. (Romanos 5:12-13)

Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz. Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. (Romanos 8:6-8)

O Islã sobre a Natureza Humana: Não há Depravação. Em contraste com a descrição bíblica da situação difícil em que se encontra a humanidade está o Islã. Os Muçulmanos negam que os seres humanos nascem com a natureza totalmente dominada pelo pecado. Comenta sobre isto Abdullah Yusuf Ali,

Como foi preparado pelas mãos criativas de Deus, o homem é inocente, puro, autêntico, livre, inclinado para o que é certo e virtuoso, e dotado com o verdadeiro entendimento sobre sua própria posição no Universo e sobre a bondade de Deus, sabedoria e poder. Esta é sua verdadeira natureza... Mas o homem está preso a uma trama de costumes, superstições, desejos egoístas e falsos ensinos. [19]

Hammudah Abdalati concorda:

A idéia do Pecado Original ou incriminação hereditária não tem nenhum espaço nos ensinamentos do Islã. O homem, de acordo com o Alcorão (30:30) e com o Profeta, nasce num estado natural de pureza ou fitrah, isto é o Islã ou submissão à vontade e lei de Deus.  Aconteça o que acontecer ao homem após o nascimento é o resultado de influência externa e fatores introduzidos...  o pecado é adquirido e não vindo com o nascimento, emergente e não algo que está no homem quando está sendo feito, evitável e não inevitável. [20]

Descontinuidade: Salvação

A próxima diferença doutrinal que iremos resumidamente examinar é a doutrina Cristã da salvação, centrada na obra expiatória de Jesus Cristo. Enquanto isto é uma crença recusada pelos Judeus não-cristãos, o ponto aqui não é argumentar em favor de sua validade contra as objeções Judaicas, mas simplesmente mostrar que a religião do Islã é descontínua para com os ensinos essenciais do Cristianismo. Em adição, tanto o Cristianismo quanto a fé do Antigo Testamento compartilham uma crença comum concernente à expiação, enquanto o Islã exatamente recusa esta dinâmica da salvação.

O Islã sobre a Salvação: Boas e Más Obras. Logicamente que relativo a esta visão da natureza humana está o ensino do Corão de que a questão final do destino humano está em se as boas obras que ele praticou são maiores que as más obras.

E a ponderação, nesse dia (Dia da Ressurreição), será a eqüidade; aqueles cujas boas ações forem mais pesadas, serão os bem-aventurados.

E aqueles, cujas boas ações forem leve, serão desventurados, por haverem menosprezado os Nossos versículos (Ayat, são evidências, lições, sinais, revelações, etc). (Alcorão 7:8-9)

E instalaremos as balanças da justiça para o Dia da Ressurreição. Nenhuma alma será defraudada no mínimo que seja; mesmo se for do peso de um grão de mostarda, tê-lo-emos em conta. Bastamos Nós por cômputo. (Alcorão 21:47)

São, por fim, exclusivamente as próprias obras que determinarão o estado eterno de felicidade ou de danação. Deste modo os Muçulmanos rejeitam a idéia da obras expiatória de Jesus na cruz, bem como a realidade histórica de que Jesus realmente morreu numa cruz.

O Cristianismo sobre a Salvação: Jesus Cristo. O Novo Testamento afirma que todos os seres humanos (exceto o Cristo encarnado) pecaram (compare Romanos 3:23 com Hebreus 4:15). Intimamente relacionado com a impecabilidade de Jesus está sua expiação dos pecados de seu povo (Hebreu 2:!7). Em harmonia com esta revelação do Novo Testamento, os Cristãos afirmam que seus pecados foram lançados sobre Cristo ao ele ser pregado na cruz. Deste modo os Cristãos afirmam que

Aquele (Jesus) que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.(II Coríntios 5:21; cf Gálatas 3:13) 

Os Cristãos não apenas afirmam que Jesus morreu numa cruz pelos pecados de seu povo, também confirmamos sua ressurreição da morte ao terceiro dia, como Paulo escreveu,

Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras,

e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E apareceu a Cefas e, depois, aos doze. Depois, foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive até agora; porém alguns já dormem. Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo. (I Coríntios 15:1-8)

Esta é a mensagem central do Evangelho para a fé Cristã. Qualquer tradição religiosa que se declarar uma continuidade do Cristianismo em qualquer senso significativo deve afirmar estas verdades. É bem aqui que o Islã acaba errando o alvo.

Rejeições Islâmicas: A morte de Jesus, Expiação e Ressurreição. Num contraste gritante, os Muçulmanos negam que Jesus é Deus vindo em forma humana (encarnação), que ele morreu numa cruz para realizar um sacrifício expiatório pelos pecados, e que ele ressuscitou ao terceiro dia. Enquanto a passagem seguinte contém algumas ambigüidades (e.g. seja por negar que os Judeus foram os que mataram Jesus ou seja por Jesus não ter morrido na cruz [21]), muitos Muçulmanos crêem que ela nega que Jesus foi de qualquer forma crucificado.

E por dizerem: Matamos o Messias, Jesus, filho de Maria, o Mensageiro de Deus, embora não sendo, na realidade, certo que o mataram, nem o crucificaram, senão que isso lhes foi simulado. E aqueles que discordam, quanto a isso, estão na dúvida, porque não possuem conhecimento algum, abstraindo-se tão-somente em conjecturas; porém, o fato é que não o mataram. Outrossim, Deus fê-lo ascender até Ele, porque é Poderoso, Prudentíssimo. (Alcorão 4:157-158; cf. 3:54)

As ramificações desta negação são devastadoras, seja qual for a linha de interpretação, por não fazer qualquer sentido significante para se dizer ser uma continuação da fé Cristã. Estes versos não apenas negam a morte de Cristo sobre a cruz mas também são uma negação da obra expiatória de Jesus, de fato. E qualquer um que esteja familiarizado com a fé Cristã, reconhece que se Jesus não ressuscitou dos mortos, então não há nenhum evangelho, não há esperança e a fé Cristã não é nada menos que uma fraude. Como o apóstolo Paulo declarou,

E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não ressuscitam. Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. (I Coríntios 15:14-17)

Claramente vemos que negar a morte de Jesus na cruz é declarar abertamente o evangelho que é o centro da fé Cristã. Negando isto, nenhuma declaração significante da fé Cristã ou do evangelho de Jesus pode ser oferecida.

Agora os Muçulmanos podem responder à nossa mostra da descontinuidade doutrinária de diversas formas. Primeiro, eles podem argüir que da mesma forma que nós argumentamos que o Islã não pode ser uma confirmação do Cristianismo por causa destas descontinuidades doutrinárias, então o Cristianismo não pode ser um complemento do Judaísmo porque seus ensinos também são descontinuados. Se assim fosse, todos deveriam aceitar que ambos o Cristianismo como o Islamismo devem ser rejeitados como falsas religiões. Não obstante, enquanto os Muçulmanos falham por ter que se constranger com estas acusações, os Cristãos poderiam disputar esta analogia através de diversas bases significantes.

Uma segunda resposta possível poderia ser que em nossa ilustração de descontinuidades entre o Islã e o Cristianismo que temos revelado apenas citamos textos bíblicos os quais estão todos corrompidos, então isto já seria esperado. Em outras palavras, a força do argumento é voltada contra o próprio Cristianismo, culpando o Cristianismo de ter textos bíblicos distorcidos, bem como doutrinaria e historicamente corrompidos. Mas os Muçulmanos ainda teriam que providenciar alguma justificação para esta acusação, desassociado de apelos do Alcorão ou tradições Islâmicas.

No que se segue, tomaremos individualmente cada uma destas objeções por vez, começando com o ultimo.

Descontinuidade: Revelação

Os Muçulmanos tentam silenciar o real significado dessas incoerências doutrinais argumentando que o texto bíblico está corrompido.  Entretanto, tal mudança cria problemas ainda maiores. Aqui encontramos uma das mais significantes não-analogias no relacionamento do Islã com o Cristianismo e do Cristianismo com a religião do Antigo Testamento.  Simplesmente bem-posicionados, os autores no Novo Testamento nunca criticaram o Antigo Testamento. Pelo contrário, o ponto de disputa entre Judeus e Cristãos foi (e ainda é) a respeito à interpretação e cumprimento da profecia. Mas os porta-vozes do Novo Testamento e os autores nunca criticaram os Judeus dizendo que eles corromperam seus textos ou aderiram a textos fraudulentos. Este é um elemento significante de continuidade que o Cristianismo tem para com a religião vetero-testamentária, mas que o Islamismo não tem com o Cristianismo. De fato, os mais cristãos mais antigos foram em grande medida Judeus que sustentaram a autoridade do Antigo Testamento e sua revelação e fidedignidade para com os textos contemporâneos. Aqui estão algumas afirmações que exemplificam.

Afirmando o Antigo Testamento. Primeiro, encontramos ordens no Novo Testamento que afirmam o Antigo Testamento inteiro como sendo inspirado por Deus, até mesmo provendo sabedoria para salvação.

Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido. E que, desde a tua meninice, sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra. (II Timóteo 3:14-17)

Aqui Paulo está se referindo à revelação do Antigo Testamento, ainda que certamente seja plausível se encontrar uma extensão legítima aos princípios dos escritos neo-testamentários.

Afirmando os Profetas. Segundo, também encontramos no Novo Testamento autores atribuindo a inspiração dos profetas para a obra do Espírito de Deus.

porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo. (II Pedro 1:21); cf. II Sm 23:2)

Afirmando a Palavra de Deus. Terceiro, tanto no Novo quanto no Velho Testamento encontramos afirmações de que a palavra de Deus nunca se extinguiria, se passaria, mas que Deus a sustentaria ao longo dos anos — não na forma de algum livro vindo do céu, tablete de argila ou pergaminho, como alguém possa estar pensando, mas através das pessoas de Deus na terra.

Voz que diz: Clama; e alguém disse: Que hei de clamar? Toda carne é erva, e toda a sua beleza, como as flores do campo. Seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o hálito do SENHOR. Na verdade, o povo é erva. Seca-se a erva, e caem as flores, mas a palavra de nosso Deus subsiste eternamente. Tu, anunciador de boas-novas a Sião, sobe a um monte alto. Tu, anunciador de boas-novas a Jerusalém, levanta a voz fortemente; levanta-a, não temas e dize às cidades de Judá: Eis aqui está o vosso Deus. (Isaías 40:6-8)

Porque toda carne é como erva, e toda a glória do homem, como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; mas a palavra do Senhor permanece para sempre. E esta é a palavra que entre vós foi evangelizada. (I Pedro 1:24-25)

Jesus também confirmou a veracidade total do texto do Antigo Testamento do primeiro séculos quando disse, “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (João 17:17). Isto é significante porque temos encontrado porções substanciais do texto do Antigo Testamento no Manuscritos do Mar Morto. Estes manuscritos mostram que o texto tal como temos hoje é substancialmente o mesmo texto do primeiro século. Assim sendo, os Muçulmanos não têm nenhuma base sobre a qual possam afirmar que o Texto do Antigo Testamento está tão corrompido que precisa ser limpo através dos ensinos Islâmicos. [22]

O Apóstolo Paulo como um exemplo estendido. Em adição a estas afirmações bem diretas e objetivas a respeito da palavra de Deus, especificamente do Antigo Testamento, é bem instrutiva a realidade de que ao longo dos estilos do Novo Testamento (e.g. Paulino, Joanino, etc.), de fato em cada autor do Novo Testamento encontramos apelos regulares ao Antigo Testamento como fonte e confirmação de seus ensinos, e que em nenhuma só vez houve alguma critica ao seu texto. Como exemplo rápido, considere as afirmações e ensinos do apóstolo Paulo na carta aos Romanos. [23]

Paulo tanto introduz quando conclui Romanos fazendo nota de como o evangelho que ele proclama procede do Antigo Testamento.

Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus, o qual antes havia prometido pelos seus profetas nas Santas Escrituras (Romanos 1:1-2)

Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto, mas que se manifestou agora e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém! (Romanos 16:25-27)

Em adição a estas declarações dignas de nota, Paulo registrou que a retidão de Deus — a qual fornece a substância de seu evangelho — foi testificada pela lei e pelos profetas, “Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o testemunho da Lei e dos Profetas” (Romanos 3:21).  E ainda que porventura alguém possa acusar Paulo de ser contrário à lei, ele explicitamente declara o contrário quando escreve, “anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei” (Romanos 3:31)

Paulo também ensinos que o ministério e mensagem de Cristo confirma as promessas de Deus aos Patriarcas,

Digo, pois, que Jesus Cristo foi ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus, para que confirmasse as promessas feitas aos pais. (Romanos 15:8)

Paulo também viu a si mesmo e suas congregações com responsabilidades para com as escrituras do Antigo Testamento, fazendo notória a validade que eles têm para a Igreja e para o povo de Deus.

Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança. (Romanos 15:4; cf. I Coríntios 10:1ss)

não só por causa dele está escrito que lhe fosse tomado em conta,
mas também por nós. (Romanos 4:23-24a)

Paulo viu seu ministério — a proclamação da plenitude do evangelho profetizado — como dependente e derivado das profecias e promessas do Antigo Testamento. Isto é amplamente verificado até mesmo através uma leitura rápida de sua epístola aos Romanos (e não apenas nesta) com um olho bem fixado nas citações explícitas que Paulo faz da lei, dos escritos e dos profetas.

É certo que Paulo não viu seu evangelho como apenas uma inovação recente, ele foi muito longe para mostrar a validade de sua mensagem como sendo absolutamente dependente das Escrituras do Antigo Testamento. Paulo explicitamente citou dezenas de versos do A.T.  em suas cartas, como é de todos sabido. E que Paulo fez alusão ao A.T. em numerosas oportunidade também é bem sabido.[24]

Claramente vemos que a postura de Paulo está em total contraste para com a postura dos Muçulmanos, os quais são críticos ao Antigo Testamento. Novamente, deve ser notado que o Islã permanece numa severa falta de analogia para com o Cristianismo quando procura legitimar seus ensinos através da tentativa de humilhar a Bíblia.

O Cristianismo e a Religião do Antigo Testamento

Muitos Muçulmanos podem se opor ao que temos apresentado, argüindo que desde que o Cristianismo se pôs para fora das práticas de circuncisão e sacrifício, então claramente o Cristianismo ab-roga a religião do A.T. Enquanto este argumento pode portar uma certa forca intuitiva, creio que há boas razões para rejeitar isto. Creio que um modo para realizar isso é mostrar que dentro de ambos o Novo quanto do Antigo Testamento é uma distinção feita entre várias espécies de lei, com algumas sendo vistas como mais significantes para a qualidade da fidelidade religiosa que Deus espera de seu povo.

Mandamentos maiores e menores no Antigo Testamento. No próprio Antigo Testamento encontramos uma antecipação profética da distinção do Novo Testamento sobre mandamentos maiores e menores da lei. Exemplos podem ser encontrados nas seguintes passagens.

Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei. (I Samuel 15:22-23)

 

Sacrifício e oferta não quiseste; os meus ouvidos abriste; holocausto e expiação pelo pecado não reclamaste. Então disse: Eis aqui venho; no rolo do livro está escrito de mim: Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração. (Salmos 40:6-8; cf. Hebreus 10:5-8, abaixo)

Porque te não comprazes em sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus. (Salmos 51:16-17)

Assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios, e comei carne. Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que vos tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; e andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem. (Jeremias 7:21-23)

Porque eu quero misericórdia e não sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos. (Oséias 6:6)

Com que me apresentarei ao SENHOR e me inclinarei ante o Deus Altíssimo? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros? De dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão? O fruto do meu ventre, pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus? (Miquéias 6:6-8)

Mandamentos maiores e menores no Novo Testamento. Também podemos ver residir no próprio Antigo Testamento uma distinção significante entre as leis. É exatamente esta distinção que é assimilada por Jesus e o autores do Novo Testamento para argumentar pela não-necessidade de certas leis exatamente pela vinda do Messias como redentor de seu povo.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer essas coisas e não omitir aquelas. (Mateus 23:23)

E o escriba lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus e que não há outro além dele; e que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças e amar o próximo como a si mesmo é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios. E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do Reino de Deus. E já ninguém ousava perguntar-lhe mais nada. (Marcos 12:32-34)

Pelo que, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste; holocaustos e oblações pelo pecado não te agradaram. Então, disse: Eis aqui venho (no princípio do livro está escrito de mim), para fazer, ó Deus, a tua vontade. Como acima diz: Sacrifício, e oferta, e holocaustos, e oblações pelo pecado não quiseste, nem te agradaram (os quais se oferecem segundo a lei). (Hebreus 10:5-8)

Devemos manter em mente aqui que tais sacrifícios e ofertas foram ordenados na lei. Mas como notamos acima, até no Antigo Testamento está claro que há assuntos de maior grandeza (Salmos 40:6-8).

Nós não apenas encontraremos tais distinções como observamos acima, mas também encontraremos passagens as quais poderiam de outro modo se incoerentes caso não fossem permitidas distinções entre o que podemos classificar como lei moral e o que é lei cerimonial (ou cultual, digamos. Penso não me referir simplesmente à cerimônia, mas àquelas cerimônias distintamente determinadas para a antiga aliança ao invés de também à nova, como a circuncisão, por exemplo.

E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivera debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivera sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. (I Coríntios 9:20-21)

Note, Paulo diz que ele não está “debaixo da lei” e também que ele não está livre “da lei de Cristo”, isto é, a lei entendida à luz do Messias que havia vindo, ou seja, a lei que foi perpetuada durante a era Messiânica. [25] Naturalmente, tudo isto implica em que certas leis teriam atingido seus objetivos propostos ou encerramentos temporais. Tais leis e os sacrifícios reconciliatórios pelos pecados atingiram seu fim com o Messias (veja o livro dos Hebreus). Tais leis como a circuncisão encontraram seu fim na circuncisão do coração através do Espírito, em parceria com a lei de Deus escrita em nossos corações (veja Romanos 2:17ss [26]  junto de Romanos 8:1ss). Considere também a posição de Paulo contrastando a circuncisão com as leis de Deus: “A circuncisão é nada, e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus.” (I Coríntios 7:19)

O Caso da Circuncisão. Não foi porventura a circuncisão uma ordenança de Deus? Sim. Então com que base os Cristãos podem negar a obrigação de sua continuidade? Este rito em particular — o qual pode ser visto mais em termos de uma marca social ou de aliança — pertence à velha aliança. Todavia, este parece ser um caso em que este rito em particular pode ser praticado sem nenhum efeito, sem que dê, de fato, a acusação de ter um “coração incircunciso” (Levíticos 26:41; Jeremias 9:26; cf; Atos 7:51). De fato, a demanda da velha aliança não foi apenas a circuncisão da carne, mas também a circuncisão dos corações.

Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração e não mais endureçais a vossa cerviz. (Deuteronômio 10:16)

Circuncidai-vos para o SENHOR e tirai os prepúcios do vosso coração, ó homens de Judá e habitantes de Jerusalém, para que a minha indignação não venha a sair como fogo e arda de modo que não haja quem a apague, por causa da malícia das vossas obras. (Jeremias 4:4)

A nova aliança, prometida no Antigo Testamento, carrega com sigo mesma uma promessa de circuncisão do coração, preferivelmente à da carne.

E o SENHOR, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua semente, para amares ao SENHOR, teu Deus, com todo o coração e com toda a tua alma, para que vivas. (Deuteronômio 30:6)

Esta promessa está relacionada a uma infinidade de promessas adicionais relacionadas à concessão de Deus de novos corações, pondo um novo espírito em seus filhos (Ezequiel 11:19; 18-31; 36:26), bem como a graça de Deus ao escrever sua lei em seus corações (Jeremias 31:33; cf. Isaías 51:7).

Deste modo Paulo escreve em repetindo as promessas em Deuteronômio e Jeremias de que Deus circundaria nossos corações.

Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus. (Romanos 2:29)

Porque, em Jesus Cristo, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas, sim, a fé que opera por caridade. (Gálatas 5:6)

Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura. (Gálatas 6:15; cf. Filipenses 3:3; Colossenses 2:11)

Assim sendo, é muito importante ver que existem outros mandamentos de Deus que podem continuar sendo empregados (em contraste às tradições antinominianas). Significantemente, Paulo escreve o seguinte:

A circuncisão é nada, e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus. (I Coríntios 7:19)

A lei de Deus, como é vista em diversos lugares nas epístolas de Paulo, claramente perpetua as proibições contra a idolatria e todo tipo de imoralidade (veja por exemplo Romanos 8; I Coríntios 5, 10; Gálatas 5).

Resumindo, quando lemos os escritos de Paulo vemos neles tanto uma ética muito forte e também defesas de que certas leis agora são inoperantes. Consequentemente, quando ele escreve às várias igrejas a respeito de princípios éticos cristãos, ele se esforça para mostrar que os cristãos têm sim leis (padrões do que é certo e de santidade) que são contínuos da demandas éticas do Antigo Testamento (veja, e.g., Gálatas 5:14. 23b; Romanos 3:31; 6:11ss; 8:1-14; 13:8-10). Tais instruções normalmente aparecem quando Paulo está instruindo Cristãos Gentios em como viver uma vida Cristã autêntica (veja, e.g., I Coríntios 5:1-6; Efésios 4:17-5:21). Mas quando Paulo se opõe aos Judeus não-Cristãos e suas opiniões divididas a respeito dos Cristãos Gentios, eles se esforça grandemente para estabelecer quais leis não são operantes (e.g. circuncisão, restrições alimentares, calendário Judaico, sacrifícios de sangue, etc.). Ele faz isso através de apelos precedentes do Antigo Testamento, do ministério do Messias e do dom do Espírito que acompanha a nova aliança (veja, e.g., Gálatas 5:16-25).

Eu posso escrever muito mais neste tópico, mas creio que o que tem sido apresentado aqui já é o bastante sugestivo para mostrar que a objeção Islâmica contra o Cristianismo é implausível. Os Cristãos têm uma visão ampla da lei de Deus (ou pelo menos deveriam ter), ainda que algumas leis foram ilustrações temporárias do coração do problema — o coração humano.

Não há profecias sobre Mohamed na Bíblia

Uma característica típica dos movimentos de restauração semi-Cristãos é o apelo para as profecias bíblicas. Estes apelos são feitos tanto para estabelecer sua chegada aguardada como movimento ou ao menos a chegada aguardada de seu líder fundador. A maioria dos movimentos restauradores modernos apela para Daniel, Apocalipse e o discurso de Mateus 24-25 e paralelos a ele são os mais comuns. Mas não é assim com o Islã. Os Muçulmanos apelam para Deuteronômio, Salmos, Isaías, Habacuque e o Evangelho de João.[28] Destes, as referências mais proeminentes são Deuteronômio 18:15-18 e João 14:16.

Deuteronômio 18:15, 18. Se consideramos as alegadas profecias bíblicas cumpridas plenamente em Mohamed, há duas outras mais proeminentes, Deuteronômio 18:15,18 e João 14:16. Primeiro veremos Deuteronômio 18:15-18.

O SENHOR, teu Deus, te despertará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis... Eis que lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. (Deuteronômio 18:15, 18)

Nestes versos lemos que Deus levantará 1) um profeta, 2) como Moisés, 3) do meio dos Israelitas, e que Deus 4) porá sua palavra em sua boca, e 5) ele proclamará aos Israelitas tudo o que Deus lhe ordenar.

Os Muçulmanos objetam a afirmação Cristã de que Jesus cumpriu esta profecia porque os Cristãos crêem que Jesus é o Filho de Deus, ou Deus encarnado. E ainda esta profecia fala de um profeta. Mas esta é uma dicotomia falsa. Jesus pode ser tanto um profeta quanto uma encarnação de Deus. De fato, muitas passagens recordam como Jesus descreveu a si mesmo como um profeta.

E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa. (Mateus 13:57; cf. Marcos 6:4; João 4:44)

Importa, porém, caminhar hoje, amanhã e no dia seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém. (Lucas 13:33)

Jesus não apenas descreveu a si mesmo como profeta, mas algumas das pessoas de Israel também o chamaram assim. Após milagrosamente alimentar cinco mil pessoas, eles disseram, “Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo” (João 6:14).  E na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, a multidão proclamou, “Este é Jesus, o Profeta de Nazaré da Galiléia” (Mateus 21:11).

Ainda, lemos no Evangelho de Lucas parte de uma conversa entre Jesus e alguns de seus próprios seguidores. E enquanto eles estavam temporariamente cegos para o fato de que aquele era Jesus, a descrição que fizeram dele ser um profeta continuava.

E, respondendo um, cujo nome era Cleopas, disse-lhe: És tu só peregrino em Jerusalém e não sabes as coisas que nela têm sucedido nestes dias? E ele lhes perguntou: Quais? E eles lhe disseram: As que dizem respeito a Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo. (Lucas 24:18-19)

O discípulos Pedro e Estevão proclamaram a mesma mensagem, que Jesus era o profeta prometido como Moisés. Pedro disse,

Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor. E envie ele a Jesus Cristo, que já dantes vos foi pregado,  o qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio. Porque Moisés disse: O Senhor, vosso Deus, levantará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser. E acontecerá que toda alma que não escutar esse profeta será exterminada dentre o povo. (Atos 3:19-23, citando a profecia de Deuteronômio 18; cf. o discurso de Estevão em Atos 7:37-53).

Todas estas passagens devem ser o suficiente para mostrar que de acordo com os autores do Novo Testamento, incluindo o próprio Jesus, a profecia foi plenamente cumprida em Jesus muito antes da chegada de Mohamed.

Ainda dizem os Muçulmanos que esta profecia não pode ter se cumprido em Jesus porque ele não proclamou a lei, como Moisés. Mas certamente Jesus proclamou sim; e como Moisés ele procurou restaurar para o povo a pureza da lei.[29] Isto é visto mais claramente no Sermão do Monte em Mateus 5-7. Considere o manifesto de Jesus em Mateus 5:17-20.

Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no Reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus.[30]

Em proclamar a duração da lei, bem como a importância de a obedecer, Jesus certamente soa muito parecido como Moisés próximo do fim de Deuteronômio.

Porque este mandamento, que hoje te ordeno, te não é encoberto e tampouco está longe de ti. Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga e no-lo faça ouvir, para que o façamos? Nem tampouco está dalém do mar, para dizeres: Quem passará por nós dalém do mar, para que no-lo traga e no-lo faça ouvir, para que o façamos? Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a fazeres. Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, a morte e o mal; porquanto te ordeno, hoje, que ames o SENHOR, teu Deus, que andes nos seus caminhos e que guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, para que vivas e te multipliques, e o SENHOR, teu Deus, te abençoe na terra, a qual passas a possuir. (Deuteronômio 30:11-16)

Em tempo, podemos notar que Jesus deu leis ao seu povo. Por exemplo, em João 13:34 lemos, “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.” E os autores posteriores do Novo Testamento também puderam falar da “lei de Cristo” (Gálatas 6:2; cf. I Coríntios 9:21).

Então Jesus é um profeta e foi semelhante a Moisés, uma proclamador da lei, mas os Muçulmanos objetam a leitura de “do meio de teus irmãos” como referência a um profeta Israelita. Eles preferem entender a passagem se referindo a irmãos não-Israelitas como ocorre em Deuteronômio 2:4 e 2:8 com referência a Esaú. Mas o uso deste termo no contexto de Deuteronômio 18:15,18 mostra que “irmandade” deve ser entendida aos irmãos de fato Israelitas. Por exemplo, em Deuteronômio 17 lemos sobre a estipulação da instalação de um rei sobre Israel. Ele deve ser “dentre teus irmãos”, e não “um estrangeiro” (17:15). O rei deve escreve uma cópia da lei para si mesmo e lê-la todos os dias de sua vida, então ele não vai “se levantar sobre seus irmãos” (17:20). Em Deuteronômio 18:2 lemos que os Levitas não poderiam ser receptadores da divisão da terra prometida, porque “não terão herança no meio de seus irmãos”. E quando os Israelitas se ajuntarem para as batalhas e algum deles se amedrontar com o que virá, foi ordenado que ele se “vá e torne-se à sua casa, para que o coração de seus irmãos se não derreta como o seu coração” (Deuteronômio 20:8). Baseado nesta breve visão geral que temos apresentado, é bem seguro dizer que os Muçulmanos que insistirem que “irmãos” deve ser entendido com referência aos não-Israelitas, devem estar obrigados a apresentar provas. Mas enquanto Mohamed não foi um Israelita, Jesus foi, como está bem evidente em sua genealogia em Mateus 1 e Lucas 3, e em outras passagens do Novo Testamento.

Em adição à evidência de que Jesus, seus discípulos e os autores do Novo Testamento entendem Deuteronômio 18:15,18 como sendo plenamente cumprido em Jesus, e que Jesus é um profeta como Moisés, vindo do meio dos Israelitas, também podemos apresentar que as palavras ditas por Jesus foram de Deus e que ele as proclamou a Israel. Com referência ao fato que Jesus falou as palavras concedidas por Deus a ele, listamos os seguintes versos.

Jesus respondeu e disse-lhes: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. (João 7:16)
 

Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do Homem, então, conhecereis quem eu sou e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou. (João 8:28)
 

Porque eu não tenho falado de mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. (João 12:49)

Que Jesus foi alguém que proclamou a palavra de Deus a Israel é muito claro e verdadeiramente evidente em qualquer leitura de qualquer um dos evangelhos do Novo Testamento.

O peso desta evidência está fortemente suportado pela visão Cristã de que a promessa de Deuteronômio 18:15,18 foi plenamente cumprida em Jesus, não em Mohamed.  Portanto o desafio de Jesus em João 5:46 soa muito alto, “Se crêsseis em Moisés, creríeis em mim, porque de mim ele escreveu.”

João 14:16. A passagem do Novo Testamente à qual os Muçulmanos comumente mais se referem é a de João 14:16, “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre”. Yusuf Ali faz exatamente isso na nota de rodapé do Alcorão, 3:81.

Tal argumento é: Vocês (Povo do Livro) estão presos ao seu próprio juramento, jurado solenemente na presença de seus próprios Profetas. No Antigo Testamento tal como hoje existe, Mohamed foi predito em Deut. Xviii. 18; e a ascensão da Arábia como nação em Isaías, xlii. 11, porque Kedar foi um filho de Ismael e o nome é usado para a nação Árabe: no Novo Testamento tal como hoje existe, Mohamed foi predito no Evangelho de São João, xiv. 16, xv. 26, e xvi.7: o futuro Consolador não pode ser o Espírito Santo como é entendido pelos Cristãos, porque o Espírito Santo já estava presente ajudando e guiando Jesus. A palavra Grega traduzida para “Consolador” é “Paracletos”, que é uma leve alteração de “Periclytos”, que é aproximadamente uma tradução literal de “Muhammad” or “Ahmad”...[31]

Ele comenta também mais adiante, em Alcorão 61:6.

“Ahmad” ou “Muhammad”, O Louvado, é quase uma tradução da palavra Grega Periclytos. No atual Evangelho de João, xiv. 16, xv. 26, e xvi. 7, a palavra “Consolador” na versão em Português é vinda da palavra Grega “Paracletos”, que significa “Advogado”, “alguém chamado para ajudar um outro, um bom amigo”, preferivelmente a “Consolador”. Nossos doutores contendem que Paracletos é uma leitura adulterada de Periclytos, e que nos dizeres originais de Jesus houve uma profecia de nosso sagrado Profeta Ahmad pelo seu próprio nome. [32]

Muito bem expressado, o argumento é que em nossos manuscritos Gregos a palavra paracletos e uma corrupção de periclytos. Mas não há absolutamente nenhuma evidência em manuscritos que suportem esta pretensão. Ao longo dos cerca de 5.000 manuscritos disponíveis agora, nenhum testemunha a favor de periclytos. Então, a acusação de corrupção textual é tendenciosa e completamente sem suporte textual.

Além disso, enquanto os Muçulmanos asseveram que a identificação do Consolador com o Espírito Santo é um equívoco, no real contexto de João 14:16, Jesus traça exatamente esta identificação: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (João 14:26). Naturalmente, os Muçulmanos podem argüir que esta declaração é uma retroação fictícia da teologia Cristã posterior; porém tal argumento precisaria de pelo menos uma só evidência.

Numerosas dificuldades adicionais tratam a atribuição Muçulmana de João 14:16 a Mohamed. O Consolador era para estar com os discípulos de Jesus “para sempre” (14:16), mas Mohamed nunca esteve com eles. Também não é válida e suficiente a resposta de que a mensagem de Mohamed tem continuado até estes dias no Alcorão. Jesus também disse que o Consolador estaria “em vós” (14:17), o que entra em acordo perfeitamente com o Espírito Santo sendo o Consolador. O Consolador seria enviado no nome de Jesus (14:26), mas Mohamed não foi. Muitos elementos adicionais podem ser referenciados também. Por fim, eu esperaria que qualquer Muçulmano que procurasse atribuir a profecia de João 14:16 a Mohamed pudesse primeiro ler por completo os capítulos 14-16 de do Evangelho de João para ver as qualidades do Consolador e como elas não podem ser plausivelmente atribuídas a Mohamed.

Como notamos já anteriormente, há diversas passagens adicionais usadas pelos Muçulmanos para suportar suas declarações de que há profecias concernentes a Mohamed na Bíblia, mas as mesmíssimas dificuldades que ocorrem em suas tentativas de usar Deuteronômio 18:15,18 e João 14:16 ocorrem nas outras passagens (menos significantes). À essa luz, a conclusão de Blaise Pascal é bem apropriada: “Qualquer homem pode fazer o que Mohamed fez; porque ele não realizou milagres, ele não pressagiado. Nenhum homem pode fazer o que Cristo fez.”[33]

Conclusão

Em um contexto cultural onde as crenças religiosas são vistas meramente como preferências, os Muçulmanos estão obrigados a suportar que tais crenças podem ser tão verdadeiras como falsas. E em um mundo onde os valores morais são vistos como antiquados, os Muçulmanos têm permanecido firmemente, proclamando que Deus é soberano e que os padrões éticos são absolutos e necessários para a saúda da sociedade. Mas nossa intenção tem sido dirigida à declaração Muçulmana de que o Cristianismo foi ab-rogado, isto é, substituído pelo Islã.

Neste estudo testemunhamos o fato de que a visão e aproximação que os Muçulmanos têm do Cristianismo está determinada pelos ensinos do Alcorão. O Alcorão ensina que o Islã foi a religião original, a fé de Adão, Abrão, Moisés e também de Jesus. Nós também notamos que o Alcorão ensina que Deus enviou profetas para todas as nações da terra. Cada um destes profetas ensinou o Islã. Abrão, Moisés e Jesus foram alguns deles. Mas seus ministérios foram limitados e temporários. Em contraste, o ministério de Mohamed é visto como universal e final. Ele nunca há de ter um sucessor. Adicionalmente, a Mohamed foi concedido um livro, igualmente como ocorreu aos que o procederam. Mas seus livros foram corrompidos, enquanto o Alcorão está completo, perfeito e incorruptível.

Em resposta à perspectiva Muçulmana, temos argumentado que o ensino da Bíblia não está em acordo com as crenças Islâmicas. Aqui nos focamos nas doutrinas relativas à depravação total da humanidade, bem como à doutrina da expiação e ressurreição de Jesus. Assim nós mostramos a improbabilidade da declaração Muçulmana para confirmar seus profetas ou seus livros. Mas os Muçulmanos podem responder simplesmente argumentando que o texto da Bíblia está corrompido. Aqui notamos que a postura deles permanece diametralmente oposta à de Jesus e à dos autores no Novo Testamento. Nunca Jesus ou seus apóstolos criticaram o texto do Antigo Testamento. E ainda, a acusação deles sobre a corrupção textual carece de justificativa suficiente. Finalmente nós examinamos as principais passagens que os Muçulmanos acreditam ser profecias falando de Mohamed. Aqui mostramos que eles têm simplesmente feito mal-uso do texto bíblico. De fato, suspeito se eles já experimentaram a situação de alguém que fez mal-uso de passagens do Alcorão do mesmo modo como que eles manipularam Deuteronômio 18 e João 14; eles ficariam profundamente ofendidos.Os textos significam algo, e uma texto fora de seu contexto é pretexto para o erro.

Por fim, se nossos soam forte, temos boas razões para crer que eles são sim firmes, então a argumentação Muçulmana de que o Islã ab-roga o Cristianismo não está comprovada e é enganosa.


Copyright 2002, Kevin James Bywater.  All rights reserved.


Agradecemos aos irmãos do Summit Ministries, www.summit.org por sua permissão em deixar-nos usar este artigo no Answering-Islam.


 * This article is a translation of "Islam as the 'end' of Christianity" - original

* Este artigo é uma tradução de "Islam as the 'end' of Christianity" - original


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Palavras-chave

Mohamed, Maomé, Muhamed, Mohammed, Islã, Islam, Alcorão, Al-Corão, Quran, Korão, Al-Korão, hadith, hadice, sharia, tafsir, islamismo.

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